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August 23, 2025 Vol 19

Exportação de frutas brasileiras enfrenta gargalos logísticos e cambiais, alerta empresário do Ceagesp

Raphael Alabarse, especialista em distribuição e exportação de frutas, aponta os principais entraves para a competitividade do hortifrúti brasileiro no mercado europeu

A exportação de frutas brasileiras para a Europa tem sido impactada por entraves logísticos, cambiais e regulatórios, segundo Raphael Alabarse, empresário do setor de hortifrúti e produtor de lichia no estado de São Paulo. Sócio da Alabarse Frutas e com base no entreposto da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), ele afirma que, apesar do potencial agrícola do país, problemas estruturais limitam a competitividade frente a concorrentes como Espanha, África do Sul e Chile.

“O Brasil tem frutas de qualidade reconhecida, mas enfrenta custos de transporte interno elevados, burocracia alfandegária e flutuações cambiais que dificultam o fechamento de contratos de longo prazo com importadores europeus”, disse Alabarse. Segundo ele, a variação do dólar, que ultrapassou R$ 5,60 no último mês, eleva o custo de insumos e reduz margens de lucro.

Dados da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) indicam que, em 2024, o Brasil exportou cerca de 1,2 milhão de toneladas de frutas, movimentando US$ 1,2 bilhão. Apesar do crescimento de 6% no volume exportado, o país ainda responde por menos de 3% do mercado global, que movimenta mais de US$ 40 bilhões anuais, de acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).

Outro desafio apontado é a logística portuária. “A falta de integração entre transporte rodoviário e portos gera atrasos que comprometem a qualidade, especialmente em frutas mais sensíveis”, afirmou. O tempo médio de escoamento até portos como Santos pode ultrapassar 72 horas, o que reduz a vida útil do produto nas gôndolas internacionais.

A questão fitossanitária também é um obstáculo. Países da União Europeia mantêm exigências rigorosas sobre resíduos de defensivos agrícolas e rastreabilidade. “Não é só produzir, é seguir protocolos específicos e, muitas vezes, investir em certificações caras, o que nem todos os produtores conseguem”, disse o empresário.

Para ampliar a participação no mercado europeu, Alabarse defende investimentos em infraestrutura logística, incentivos para certificações e estabilidade nas regras de exportação. “Se o Brasil quer competir com países que já têm cadeia integrada e custos menores, precisa criar condições para que o produtor não perca dinheiro antes mesmo de chegar ao porto”, conclui.

Vinícius Correia Ferreira